sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Telebras alega que empresas nacionais cobraram o dobro do preço do SAP

O diretor Técnico-Operacional, Paulo Eduardo Kapp, procurou explicar a aquisição do software de gestão administrativa (ERP) da multinacional alemã SAP - que está gerando desde 2012 problemas em sua customização - com alguns argumentos questionáveis. 

Mesmo admitindo seu desconhecimento do processo de compra - Kapp não foi diretamente responsável administrativamente pela aquisição - na apuração entre as declarações dele com o que de fato ocorreu na época há uma série de lacunas que ainda precisarão ser preenchidas através de novos esclarecimentos por parte da empresa, de preferência por aqueles que realmente pleitearam a compra.

O Sistema SAP foi adquirido pelo pregão 020/2012 realizado pela Telebras em 19 de junho de 2012 e teve a publicação de sua Ata no dia 12 de julho de 2012. Kapp alegou que a Telebras tentou colocar cláusula de proteção da indústria nacional, mas na época não havia legislação pertinente para preferência no caso do software, só hardware.

"A gente tentou isso por causa da TOTVS, que tinha um ERP também, eles estavam enfrentando problemas em outros lugares mas pelo menos era nacional e atendia o que a gente precisava", explicou o diretor, sem que tenha sido indagado em algum momento por esse Blog a participação desta empresa. 

Entretanto o Blog sustenta sua opinião de que a indústria nacional não participa de pregões - pelo menos para vencer - pois é notório que o governo não compra de empresas nacionais, só de revendas de multinacionais. 

Kapp disse que todas as grandes empresas no mercado que trabalham com ERP atendiam as especificações do edital. "O que se fez da parte da SAP por intermédio da Indra (quem disputou foi sua "subsidiária" Politec Tecnologia) foi jogar o preço lá embaixo", disse Kapp. 

O preço dito por ele foi de R$ 6 milhões. Contudo, na Ata do pregão o preço obtido no pregão foi de R$ 12,7 milhões, que depois de negociado pelo pregoeiro acabou baixando para R$ 11,7 milhões. Mesmo assim, Kapp sustenta que alguns módulos não foram entregues e a Telebras não pagou todo o valor contratado.

"A gente tentou comprar um sistema que fosse o mais padrão possível, menos customizável possível, para não dar problema", alega o diretor, que assegura que em nenhum momento o edital foi direcionado para ser adquirido um ERP da SAP. 

"A TOTVS entrou na licitação, atendia a licitação e perdeu por um preço quase duas vezes maior. Você quer que eu faça o quê?", indagou o diretor da Telebras, ao ser questionado por que sempre dá SAP nas licitações do governo.

Direcionado ou não, com preço razoável ou não, o fato que consta na Ata do Pregão 020/2012 da Telebras é que nenhuma empresa nacional, que seja desenvolvedora de ERP, como no caso da TOTVS, participou do pregão. Não consta nessa Ata nenhuma informação sobre a presença desta empresa, que nenhum lance tenha sido dado por ela para obter este contrato, ou de qualquer outra empresa que não seja revenda de multinacional. 

Na Ata da Telebras a única informação que consta é de que apenas duas revendas da SAP: Politec Tecnologia (Indra) e CAST Informática S/A, participaram deste pregão. Duas notórias empresas de Brasília, conhecidas no mercado por participarem do SINDESEI - um sindicato criado por elas para defender seus interesses comerciais - que responde a processo por cartel e fraude em licitações, promovido pela Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça, que está sob análise do Cade - Conselho Administrativo de Defesa Econômica.

Não se tem notícia de que a CAST tenha sido punida no âmbito deste processo. Porém a vencedora do pregão, a Politec, chegou a fazer um "acordo de leniencia" no Cade e pagou multa de R$ 35 milhões para se livar da acusação, e depois colaborou com as investigações. O processo até hoje não teve os seus resultados divulgados pelo Cade, no que se refere as demais empresas envolvidas com o SINDESEI na "Operação Mainframe" deflagrada pela Polícia Federal a pedido da SDE.

Além disso, indagado ao diretor se a Telebras não tinha conhecimento de que esse sistema vem dando problemas de implantação em outras estatais e bancos oficiais, Kapp explicou que, na Telebras, as eventuais falhas não estão relacionadas ao software, mas a migração dos dados armazenados em seu legado.

Não é tarefa fácil, segundo ele, pois a empresa vinha enfrentando na época da aquisição do ERP problemas como a falta de mão de obra especializada, e seu pessoal estava voltado para outras demandas também urgentes como a Copa do Mundo, além do atendimento de auditorias do TCU justamente para o acompanhamento do trabalho de implementação da rede de telecom para o mundial de futebol.